ONDE ESTÁ A PAZ?

ONDE ESTÁ A PAZ?
Onde está a paz?
Onde estão suas pegadas,
As marcas de seus pés descalços?
Em que rua, esquina ou canto ela se esconde?
Apenas seu manto branco e diáfano
Surge roto e manchado de sangue.

Não a procure na asa das pombas
Com raminhos de oliveira no bico,
No longo discurso vazio
Dos que proclamam sua busca
Na formalidade das tribunas,
Na veste imaculada dos sacerdotes e dos romeiros,
Ou no túmulo dos que partiram para outras esferas...

Procure-a no fundo do olhar baço
Da criança órfã de guerra,
Na angústia das mães
Com filhos mortos nos braços dos campos de batalha,
Nas fileiras dos mutilados pelas minas,
Na fronteira dos refugiados,
Na greve de fome dos que lutam
Contra os ditadores perpétuos,
No fundo dos cárceres de pedra
Dos perseguidos por tiranos do poder,
Nas chagas dos que morrem segurando seu branco estandarte...
Procure-a nos corpos esquálidos
Dos que imploram alimentos
No tórrido deserto da vida,
Na poeira vermelha da aridez dos sertões,
Entre os trapos imundos
Dos que dormem enrolados (e embolados)
No canto obscuro das metrópoles,
No terror da criança violentada,
No silêncio da mulher espancada,
No aglomerado infinito
Das filas de coletivos e hospitais...

Procure-a no fundo dos asilos,
Na pupila dilatada
Dos que jazem na garra da droga,
Na solidão rejeitada
Dos que vagam pelas praças,
Entre os mortos do terror fanático,
Na podridão dos cárceres lotados,
No sangue que escorre nas “primaveras”,
No leito frio dos moribundos,
No leito impiedoso das meretrizes,
Nas vítimas da loucura do trânsito...

Procure-a onde ela mais escasseia,
Onde ela só aparece
Como luz no fim do túnel,
Onde ela escorre
Como água entre os dedos
Dos que mergulham as mãos na água
Das bacias de prata da indiferença,
Nas florestas sem árvores,
Na pele dos animais riscados do planeta,
Procure-a na escuridão dos ermos,
Onde ela esconde
Seu rosto de luz.

VIRGÍNIA PAIVA SILVESTRE (Nova Lima - Minas Gerais)

PROFESSORA APOSENTADA